sábado, 10 de maio de 2008

Valsa em ré maior

Vamos recomeçar do princípio dessa dança, meu bem. Deixa a moça falar porque as lembranças precisam agora serem reveladas, não apenas cumprimentadas.
Ela não disse que foi grave, mas foi. Doeu no fim do inverno. Doeu na primavera. Doeu no alto verão. Houve muita dança de pés e de corpos. Nem tantas. Mas as poucas foram infinitas naquela época. Se encontraram e sorriram como bons amigos, mas eram além e ele sabia disso. Sim, ela desejou que ele fosse embora. Desejou existir escondida,
e me perdoe, ela amou. De desejo de carne, mas amou. Também se ama os atos e ele dançava muito bem e tinha um sorriso de constância impecável, coisa impensável para ela naqueles tempos. Mas vamos falar da despedida (porque ela precisa) daquele dia em que havia uma fila para comprar ingressos. Fazia um mês que ele não estava.
Semanas de outros corpos junto ao seu. Ela não sabia estar só. Questão de preenchimento. E eles se olharam, e ela chorou. Existe uma divida, entende?

"Espera por um tempo que não sabe se vem
Todo o tempo é espera...
Esperar faz o tempo caminhar a passos céleres
Tempo que espero te esperar.
Porque não me liga e interrompe este estado em que não sei estar?
Porque não aparece e me solicita a dançar?
Porque não me acorda de madrugada e me convida para te amar?
Mas só me da esperas.
Estou cansada.
Faz tempo.
Faz vazio dentro de mim estas noites em que não está.
Faz tempo de te esperar..."

... naquela fila ela tremeu. Aquele espetáculo ela não assistiu.

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Ela preferia ser humilde e não à sua altura que era enorme: Lóri sentia que era um enorme ser humano. E que devia tomar cuidado. Ou não devia?