terça-feira, 30 de setembro de 2008

(risadas ao longe)
...já é tarde, estamos famintos...

...uma ciranda por favor!
...beije-me os lábios como da primeira vez!

Flutuações...


Ela minusculamente se desfaz em dias. Se dissolve ao calor do sol. Sua brisa suave já não cheira a neve e ela pode ser indiscreta. Pode sofrer tomando uma bebida à beira da piscina. Nada de companhias, esperar faz mais sentido. Revistas, livros, música. Ela não quer saber de saudade, quer ele. Sabe que ele virá. Está bêbada. Dança ao som de boleros. Escuta o cachorro latindo e pode ser ele. Melhor se despir. Melhor dar um mergulho, engolir um pouco de água para lavar o hálito. Melhor prender a respiração para que ele venha buscá-la no fundo. Pensará que está morta?

ELE

... suas palavras estão enfaixadas. Uma atadura lhes cobre o âmago. Nada demais, apenas necessitam de repouso (ela tem aproveitado para fazer o mesmo...)

sábado, 20 de setembro de 2008

Sophie


Se ela vivesse em liberdade seria prisioneira, mas como vive enclausurada é livre. Não vive só, vive à dois, ou por dois, como queiram. Para ela é único e não venham discutir as posses, ele a possui, ponto. Vestimentas não lhe agradam, por isso vive nua - pode ser assim. As vozes que escuta são musicais, não se satisfaz com o simples dizer, inútil de melodias. Sua bebida é gim. Sua comida o sexo, quando muito frutas. Ele gosta de sua palidez. Não tenho mais nada a dizer sobre ela, apenas fotos. Ela se auto-retrata todas as manhãs, também a ele e sua robusta estrutura corporal. Imagino que vivam alheios, esquecidos, apenas lembrados para si mesmos. Me parece que atingiram uma extremidade lúdica.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Chico e Betinha

Betinha seus olhos são azuis como o por do mar... E mar se põe? Para você ele é todo chão Betinha. Não vês? O sol se deita nele e juntos os dois dormem, depois vira preto, azul escuro, sei lá... não vês? Mas tem a lua Chico... Ai essa nem me fale, que tem conchavo contigo e eu sei... Nunca mesmo! Tem e tenho provas! Ai Chico se ela por ti tem apreço, não sou eu a culpada de tuas conversas por toda a madrugada. Betinha ela se enche e eu fico doido, fico homem fora de si, sinto saudade de tudo, até daquelas coisas que só você vive dizendo. De amor Chico? Pode ser...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

... talvez eu queira apenas te encontrar...

Carminha

Se existe um nome para mulher, com certeza é Carminha. Carminha é mulher bem feita, com tantos dotes que chegamos a desconfiar se foi feita por Ele mesmo. Não tem amigas. Anda para cima a para baixo na companhia de seu cachorrinho - presente dado por Teobaldo no primeiro anivesário de casamento. Teobaldo é homem trabalhador, daqueles que saem as sete da manhã e só voltam quando o sol se põe. Carminha não trabalha. Não por vontade, mas por prescrições médicas. Tem sopro. Nos tempos de crise, seu coração acelera, a respiração fica incontrolável e seu corpo treme inteiro. Carminha não gosta de cozinhar, mas gosta de roupas. Principalmente as de baixo. Gosta também de cinema, de modo que seus dias são assim: escolher e comprar as roupas de baixo, afagar seu cachorro e ir ao cinema. Assiste à tantos filmes, que já pensou em escrever para o Jornal. Carminha conheceu Alfredo na última sessão - das cinco, pois Teobaldo janta as sete e faz questão da esposa à mesa - conversaram e trocaram impressões do filme em questão. Era um suspense e Carminha adora suspenses. Alfredo achou o filme sensacional e gostaria de vê-lo novamente. Carminha aceitou. Em princípio teve medo, mas depois resolveu aceitar o convite e combinar uma sessão dali a dois dias. Na noite que antecedeu ao encontro Teobaldo anunciou que tinha que viajar à trabalho e gostaria de saber se ela ficaria bem na sua ausência. Carminha não exitou e pediu que ele a levasse. Mas Teobaldo viajaria à negócios e isso a aborreceria. Aproveite para se divertir, inclusive tenho aqui dois ingressos para o Teatro depois de amanhã. Dentro de três dias já estarei de volta, disse o marido. Carminha suspirou fundo, pensou em pedir pelo amor de Deus que não a deixasse sozinha, mas desistiu assim que Teobaldo lhe deu um beijo na testa e desejou boa noite. Carminha apagou as luzes da casa e subiu, abriu a porta do quarto e Teobaldo já estava dormindo. Ficou no banheiro um tempo e resolveu tomar um banho. Ligou o chuveiro e sem querer, pensou em Alfredo. No dia seguinte lá estava ela as cinco em ponto com seu ingresso na mão. Nem um minuto se passou e chegou Teobaldo com duas pipocas e dois ingressos. Já tenho, meu disse ela. - - Então jogue fora, você é minha convidada.
Carminha suspirou, sentiu seu coraçãoo bater forte, tão forte que pensou em desistir.
- Vamos, já estamos atrasados.
E Carminha foi, foi como nunca tinha ido. Foi tanto, que ao acabar o filme já estava convidando Alfredo para o teatro no dia seguinte. Depois do teatro sentiu vontade de beiijar Alfredo. E beijou. Beijou tanto que esqueceu que era mulher casada e beijou em sua casa, escutando Elvis. Beijou a noite inteira. Teobaldo voltou no dia seguine. Carmelita fez questão de ir recebê-lo na roviária. Quando se encontraram, Carminha pulou nos braços de Teobaldo e quis lhe dar as boas vindas, contar da peça, do quanto sentiu a sua falta. Teobaldo lhe deu um beijo na testa e disse:
- Se acalme, todos estão nos vendo.
E se distanciou de Carminha.
- Tenho que ir para o escritório.
Carminha acatou a decisão e voltou sozinha no lotação.
Chegando em casa, olhou ao redor, afagou o cachorrinho e decidiu encontrar Alfredo na sessão das cinco.

Sopro


- Diga ah!
- Diga oh!
- Diga ah novamente...
Um beijo. Eu não pensei e dei-lhe um beijo ali, em frente ao porta-retrato com a foto da sua família. Não eu não sinto vergonha, sinto um tesão incontrolável que, agora revendo os fatos, ainda me inquieta. Seus olhos brilhavam me pedindo isso e aquilo, a mais de meia hora. Estava nua por baixo do avental verde-claro. Quando ele se aproximou eu ja não via nada, apenas aquela boca. Vocês fariam a mesma coisa. Acreditem, se pudessem e não houvessem consequências, fariam. Ele afastou todos os livros da mesa, jogou sua família no chão e me comeu, me comeu com a fome dos monges, com o desespero dos puritanos. Ele ainda me ligou mais algumas vezes. Não, eu nunca mais o encontrei depois daquele dia. Sim, eu fiz questão de pagar a consulta.

domingo, 14 de setembro de 2008

IMPROPERIOS

Tudo aconteceu como mandavam os motivos. Não foi rebuliço da carne. Foi real. Sem arrependimentos. Ninguém sabia, eles sim. O choque foi antes. Me desculpem mas essas coisas acontecem e ninguém pode prever. Eles sim. Sabiam que naquele dia tudo seria explicado: por toques. Não vou discorrer os motivos, intimidades são intimidades, e, foi lindo e foi extasiante. Seu corpo estivera adormecido. Não posso julgá-la. Apenas foi assim.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Tenho febre.

Dor

Toca uma nota. Por favor toca só uma nota para mim. Um dó. Maior ou menor tanto faz. Pode ser com as mãos pode ser com os pés pode ser na caixinha de fósforo. Eu amo um pandeiro e você me vem pisando pé-ante-pé.

Samantha

é falta de peito, de pedra, de terra de caminho. é desconforto sem ninho, sem parada, seu sorriso é só disfarce. é falta de dentes, de cordas bem alinhadas e amarradas, ela é liquida, como naquele livro. é falta de realidade, roupa para lavar, barriga no fogão e texto na mão. ela é só encantos, como a abóbora daquela história. é falta de horas planejadas. ela não tem métodos, inconcretos seus laços, desajeitados seus gestos. é falta de frio, é falta de céu. ela quer alcançar o que não sabe. Samantha é assim, milagrosa nas horas vagas, e adora andar de balão, embora nunca o tenha feito. putinha perfeita, se nascer de novo quer ser comcubina.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Diva

Carmelita que ser estrela. Desde pequena ja sabia e explicava ao pai:
-Quero ir pra Cidade Grande, aprender a rir, chorar e ficar brava na hora que eu quiser.
Quero fazer igual ao palhaço aqui do circo, só que diferente, mais contido.
O pai se abismava diante de tanta sabedoria, mas infelizmente não sabia o que responder. Carmelita fez 15 anos e resolveu comemorar, cortou uns panos velhos, pintou o delicado rosto com tinta guache e no meio da noite reuniu toda a família, inclusive pipoca a cachorrinha inteligente, que aliás era platéia costumeira de Carmelita, pois nada foi de improviso, estava tudo muito bem ensaiado. Pediu ao irmão mais velho que anunciasse, segurando um lençol branco bem esticado:
- Vinda da Cidade Grande, a majestosa estrela: Carmelita.
O pano caiu e a menina começou a recitar o que ela chamava de monólogo. Chorou, gargalhou, se jogou no chão, levantou e agradeceu a sua platéia como vira na TV. A família aplaudiu extasiada, nem todos sabiam dos dotes artísticos da menina. Ao final da comemoração seu pai lhe pediu que no dia seguinte fosse até a praça comprar a passagem para a Cidade Grande. Na manhã seguinte lá estava ela. O ônibus sairía naquela tarde, logo depois do almoço. Dona Filipa chegou a perguntar se aquilo era mesmo verdade, e também teve muito medo. Ouvira dizer que na Cidade Grande as coisas são muito difíceis. Mas Carmelita não estremeceu, juntou seus poucos vestidos, um casaquinho de lã recém feito pela mãe, o único sapato, tomou banho, fez trança e passou um perfume que ganhara no tiro-ao-alvo na últina festa junina da cidade. No almoço foi aquela choradeira, os irmãos perguntando porque não podiam ir também, a avó que não falava, nem lembrava de nada fazia anos, chegou a desejar boa sorte e dar a benção. Carmelita pediu que só o pai a acompanhasse até a praça, melhor, para não parcer coisa de gente do interior, que vai todo mundo se despedir e é aquela coisa. O pai terminou o almoço, penteou os cabelos para trás com seu pentinho de bolso e chamou a menina, estava na hora. Carmelita pegou suas coisas, a vasilha com bolo e frutas que sua mãe tinha preparado, deu a mão ao pai e foram a pé pela estradinha de terra que dava na cidade. Quando Carmelita avistou o ônibus sentiu vontade de desistir, mas seu pai segurou firme em sua mão e seu medo desaparceu. Subiu as escadas do ônibus , sentou na poltrona 15 - fizera questão do número, para dar sorte - encostou a cabeça no banco e foi feliz, com o endereço de Tia Joana, parenta distante de sua mãe que morava na Cidade Grande desde que se casou com seu Altamiro, um importante cabo do exército. Carmelita adormeceu logo no primeiro quilômetro. Sonhou com palcos, luzes, tapetes vermelhos e autógrafos, muitos autógrafos.
Ela preferia ser humilde e não à sua altura que era enorme: Lóri sentia que era um enorme ser humano. E que devia tomar cuidado. Ou não devia?