terça-feira, 16 de setembro de 2008

Carminha

Se existe um nome para mulher, com certeza é Carminha. Carminha é mulher bem feita, com tantos dotes que chegamos a desconfiar se foi feita por Ele mesmo. Não tem amigas. Anda para cima a para baixo na companhia de seu cachorrinho - presente dado por Teobaldo no primeiro anivesário de casamento. Teobaldo é homem trabalhador, daqueles que saem as sete da manhã e só voltam quando o sol se põe. Carminha não trabalha. Não por vontade, mas por prescrições médicas. Tem sopro. Nos tempos de crise, seu coração acelera, a respiração fica incontrolável e seu corpo treme inteiro. Carminha não gosta de cozinhar, mas gosta de roupas. Principalmente as de baixo. Gosta também de cinema, de modo que seus dias são assim: escolher e comprar as roupas de baixo, afagar seu cachorro e ir ao cinema. Assiste à tantos filmes, que já pensou em escrever para o Jornal. Carminha conheceu Alfredo na última sessão - das cinco, pois Teobaldo janta as sete e faz questão da esposa à mesa - conversaram e trocaram impressões do filme em questão. Era um suspense e Carminha adora suspenses. Alfredo achou o filme sensacional e gostaria de vê-lo novamente. Carminha aceitou. Em princípio teve medo, mas depois resolveu aceitar o convite e combinar uma sessão dali a dois dias. Na noite que antecedeu ao encontro Teobaldo anunciou que tinha que viajar à trabalho e gostaria de saber se ela ficaria bem na sua ausência. Carminha não exitou e pediu que ele a levasse. Mas Teobaldo viajaria à negócios e isso a aborreceria. Aproveite para se divertir, inclusive tenho aqui dois ingressos para o Teatro depois de amanhã. Dentro de três dias já estarei de volta, disse o marido. Carminha suspirou fundo, pensou em pedir pelo amor de Deus que não a deixasse sozinha, mas desistiu assim que Teobaldo lhe deu um beijo na testa e desejou boa noite. Carminha apagou as luzes da casa e subiu, abriu a porta do quarto e Teobaldo já estava dormindo. Ficou no banheiro um tempo e resolveu tomar um banho. Ligou o chuveiro e sem querer, pensou em Alfredo. No dia seguinte lá estava ela as cinco em ponto com seu ingresso na mão. Nem um minuto se passou e chegou Teobaldo com duas pipocas e dois ingressos. Já tenho, meu disse ela. - - Então jogue fora, você é minha convidada.
Carminha suspirou, sentiu seu coraçãoo bater forte, tão forte que pensou em desistir.
- Vamos, já estamos atrasados.
E Carminha foi, foi como nunca tinha ido. Foi tanto, que ao acabar o filme já estava convidando Alfredo para o teatro no dia seguinte. Depois do teatro sentiu vontade de beiijar Alfredo. E beijou. Beijou tanto que esqueceu que era mulher casada e beijou em sua casa, escutando Elvis. Beijou a noite inteira. Teobaldo voltou no dia seguine. Carmelita fez questão de ir recebê-lo na roviária. Quando se encontraram, Carminha pulou nos braços de Teobaldo e quis lhe dar as boas vindas, contar da peça, do quanto sentiu a sua falta. Teobaldo lhe deu um beijo na testa e disse:
- Se acalme, todos estão nos vendo.
E se distanciou de Carminha.
- Tenho que ir para o escritório.
Carminha acatou a decisão e voltou sozinha no lotação.
Chegando em casa, olhou ao redor, afagou o cachorrinho e decidiu encontrar Alfredo na sessão das cinco.

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Ela preferia ser humilde e não à sua altura que era enorme: Lóri sentia que era um enorme ser humano. E que devia tomar cuidado. Ou não devia?