... mas ela foi se deitar. Suas pernas não estavam cansadas. Simplesmente sentia o peso do corpo esbelto - um olhar fascinante escancarando uma mente de finos pensamentos. Durante a noite ouviu o barulho constante do ventilador embalando seus sonhos. Na manhã seguinte se levantou, olhou para o lado: ele não estava. Foi até a sala, vasculhou tudo. Nem sequer um bilhete. Voltou ao quarto, tomou alguns comprimidos e dormiu novamente. Acordou com o sol se pondo. Já na sala, conferiu os recados da secretária eletrônica: ninguém havia ligado. Sentiu um enorme alívio: poderia continuar anônima em sua dor. Tomou outros tantos comprimidos, antes de se deitar, olhou o espelho e sentiu naquele exato entardecer que sua alma tinha lhe abandonado. Ficou ali, parada, tentando encontrar o momento em que partira. Pensou em escrever. Pegou lápis e papel. Acabou adormecendo antes da primeira letra. Dormiu ali mesmo, sentada, cabeça jogada sobre o sulfite branco. Acordou com o sol queimando suas costas. Tentou se levantar, não conseguiu. O telefone tocou, tentou novamente se levantar. Não conseguiu. O toque cessou no instante em que a campainha tocou. Seu corpo estava como que paralisado. Tentou gritar - voz inexistente. Seu rosto colado ao papel, olhos voltados para a janela e, na calçada, três andares abaixo, avistou Pedro cruzando a rua.
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