terça-feira, 29 de abril de 2008

Segunda-feira depois de tudo

Eram três morangos vermelhíssimos. Três latas de mangada e um pote de sorvete de cupuaçú. Tinha um filminho de amor dando sopa em cima da mesa. Lá foi Dindinha. Lá estava o gato deitado no braço da poltrona em sonhos sem fim. Legendas-colher na boca-legenda-colher na boca-legenda- colher na boca... Dindinha passou a tarde de segunda-feira desse modo. Chegou a tardinha e tudo o que tinha de bom ao seu alcance já tinha sido usufruído de maneira que nada mais lhe restara senão sair. Olhou pela janela. Chuva caía. Relâmpagos. Olhou para a vitrolinha amarela - herdada do irmão mais velho - e pensou nos discos mofados. Em sua casa tudo mofa e não tem desumidificador que dê jeito. Ai como ela queria ouvir a velha vitrolinha trabalhando num Billy Holiday... Bocejou. Olhou para o gato. Ele estava acordado, com as pupilas dilatadídissimas, com o corpo todo disposto. Sentiu pena, o gato não teria para onde ir, no máximo circular pela minúscula kitinete. Ai se tivesse coragem, talvez deixasse Matias dar umas voltas pela vizinhança. Mas coragem sempre foi a última das suas qualidades, então, nada de passeios. Espera, talvez deva colocar Matias numa coleira e ir para um bar, pedir dois chops e uma isca de peixe, com certeza deve haver uma jukebox em algum bar dessa cidade. Vem Matias, nós não temos uma coleira, mas entra aí na sua casinha de transporte que nós vamos dar um passeio...

EXPLOSION

Vamos existindo aos poucos até que tudo se acalme.

domingo, 20 de abril de 2008

Inverno

Estou sentada em frente a ela. Estou em cima da bancada de madeira, ela está deitada. Seus olhos estão fechados. Os cabelos estão sem brilho e a primeira coisa que me vem em mente são as claras de ovo que minha tia uasava para dar brilho nos nossos cabelos. O cheiro depois de umas duas horas ficava insuportável, chegava então a hora de lavar. Não, não posso fazer isso. Talvez eu deva chamar uma cabeleireira para me ajudar. Merda. Odeio esse gato, ele sempre me assusta com essa cara horrível de quem sabe tudo. Sabe de nada, se soubesse nem teria entrado aqui. Fora. Chega. Puta que pariu, eu não estou conseguindo chorar, essa porra de situação não me deixa nem sentir a falta dela. Acho que tem alguém subindo, é melhor eu ir tirando os sapatos e depois as meias. A última coisa que eu vou tirar será a calcinha e o sutiã, talvez eu nem precise troca-los, se eles forem bonitos e estiverem combinando eu os deixarei. Na escola ela me pediu um lápis emprestado e no recreio ela veio se sentar ao meu lado. Ficou o recreio inteiro sem dizer uma palavra, voltamos para a aula e ela me agradeceu a companhia. Mulheres na maioria das vezes, usam técnicas que conservem suas feições. Não quero me perguntar isso, não vou me punhetar com essa pergunta, tem coisa que não tem explicação, todo adulto sabe disso. Porque esse vestido vermelho? Para que salto? Onde ela pensou que estava indo? Droga, eu quero chorar, eu preciso me concentrar e chorar hoje, agora que ela está aqui na minha frente. Suas mãos estão lindas. Lisas. Esse cheiro que eu estou sentindo está vindo da folha de lavanda que minha avó tinha nos fundos da casa. Eu não vou conseguir, eu não quero, eu não sou obrigada a estar aqui, sozinha. Mãe! Por favor venha me buscar, eu estou com medo, quero ir embora! Sua vaca, eu não te amo. Eu quero que as coisas terminem sem que eu tenha que fazer qualquer último favor. Essa carta de merda que você deixou, esse seu quarto com tantas e tantas fotos de todos esses anos que não existem mais. Eu estou chorando. Eu consegui, eu consegui. Estou chorando. Eu estou chorando compulsivamente.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Perfídia

... só mais um instante e tudo será diferente...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Comemoração

... a vida vai indo aos montes. Tenho estado surpreendidamente feliz. Não dessas felicidades estonteantes e arrebatadoras, mas daquelas de que tudo vai bem e se segue sendo gente simples. Os dias andam menos da artista - talvez a mulher esteja no seu momento áureo não querendo dividir as honrarias.
Ontem teve festa, teve jantar e teve também o amor, livre num canto de banheiro, às escondidas.
Tudo muito maravilhoso, quase como em um conto de fadas - talvez seja o meu conto mais profundo e impronunciável.
Talvez o box do banheiro esteja se transformando numa linda banheira e a menina não precise mais tapar os cantos por onde escorria a água...
Espuma de sabão, bolhas de champange e flores, muitas flores em tules de renda e seda francesa.
Ela preferia ser humilde e não à sua altura que era enorme: Lóri sentia que era um enorme ser humano. E que devia tomar cuidado. Ou não devia?