quinta-feira, 25 de março de 2010

Butterfly

Porque você disse?
Porque eu acordo
de acordo?
Antes teus ais
Depois meus mais
Entre como
Entre somos
Para quê?
Linda
Eu você
Somo antes do ser
Somos antes de partir
Nunca.
Estamos.
Juntas.
Nunca.
Estamos.
Juntas.

Vai

Eu som de outros
vinda amor
nos sonhos
eu vida
sombria dia
ontem fugidia
saudade antes de vir
saudade de duvidar
do gosto
do saber se é
se pode
salvar o ontem
duvida
porque?
eu quero

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Morreu

Hoje sou triste
tristeza de saudade
tristeza dessa vida
vadia
puta
vagabunda
feia
bem suja
você sonho
você menino bunito
eu sua
eu falo
eu menino
eu sua
aluna
saudade

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Você

Longe
muito longe
você
lábios
peitos
dias
você
meu seio
meu ventre
meu entre tantos
meu ontem
você
aquilo de antes
no início
quando dentes
nunca sabidos
você meu líquido
minha vida
ontem
muito antes
você minha
ontem
muito antes
mãe.

sábado, 12 de setembro de 2009

Morena

E já não te escutam
morena
não auviste o som
dos dentes trincados
da febre atracando o vento
morena
já não te escutam boca
sorrisos, dentes
morena
teus anseios
morena
longa data
livros, fadas e goles
minha morena
branca
negra
ruiva
você
já não te pensam
mulher
já não te lambram
dama
seio
cabelo
ventre
medo
mulher
medo.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Aquela arte

Poe o osso
do prozaico moderno
do membro audaz
mais um tanto
da farsa muda
inquieta
languidamente inócua
desprovida de fogos
inutilmente morta
aos ouvidos
ao peito
misture a avidez coesa
entregue assada
cheirosa
caliente
lamba os dedos porosos
do arroto seguro
da tua farsa estupida
da tua consistência
inócua.
eis o prato
eis o parto
do filho querido
do filho amado
e desdito.
façanhas.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Ontem

Eu também tive uma história
engraçada ou boba
eu também soube do homem que não estava
ontem eu me lembrei
me detive na palavra do livro
na frase pontuada
naquele minúsculo instante
você se abriu em páginas
incertas
porém muito bem datilografadas
sonhamos o avesso
você e eu
despimos a honra
nós dois
embaralhamos o senso comum
e fomos
durante 361 dias:
AMANTES
eu você e todos os nossos eus
nossos mais que nossos
mais do que poderíamos aguentar:
Palavras em aberto
Nós dois sabemos,
ontem
se lembra?

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Eu amo

Você meu desdito
Você meu abismo presente
Corrente incoerência
Amor ontem
momentos remotos
amor lenço
amor berço
você sonho
nosso
dia parque
nosso dia
filha
sua
minha
marie
amor
sinto
presença
falta
eu
nós
saudade
pele
saudade
junto
família

quarta-feira, 20 de maio de 2009

DONNA

DONNA
(um conto ou princípio de argumento cinematográfico)

Prólogo

Acabamos de voltar do enterro Dele. Todos me olham com sentimento de alívio. Talvez alguns ainda esperem que Ela apareça – não por maldade – como se desejassem o meu confronto com a vida que levamos nos últimos quarenta anos. Sinto nesse momento muita raiva e amor em igual medida. Sinto que tudo me pertence e que, não posso e não desejo dividir essas horas com mais ninguém - a minha dor por ele ter partido e me deixado aqui - mesmo que esse alguém seja parte de mim mesma.
Para Ela, o fato de seu amante ter morrido é algo que lhe custa apenas as horas vagas que não se preencherão mais. Para mim, custa a vida diária que se foi no momento em que ele fechou os olhos.
Ele não chamou por Ela nos seus últimos instantes. Não cometeu a indelicadeza de pedir sua presença, pois sabia que todos, filhos, netos e bisnetos, estavam ávidos pelo descortinamento. Ele foi íntegro, e , mesmo seus olhos – que me pediam a presença Dela - tornaram-se calmos quando eu lhe disse:
- Ela pediu que te avisasse que não virá e que você entenderia o porquê.
No momento seguinte à minha fala tudo se apagou. Para mim, para Ele e para Ela. Foi como se estivesse morrendo toda uma vida de verdades irreais. Todo um sentido existencial, que, só se fez por conta de um - sejamos sinceros – por conta de um acaso.

O Teatro
Noite de quarta-feira de 1931.
O teatro está lotado. Estou me preparando para entrar em cena. Últimos retoques, coloco a peruca negra.
Primeiro sinal;
Fecho o zíper do vestido turquesa.
Segundo sinal;
Me dirijo à boca de cena, na total e absoluta penúmbra.
Terceiro sinal;
Respiro fundo e as luzes se acendem.
Agora estou eu, representando em frente à mais de mil espectadores: Natasha.
As luzes da ribalta ofuscam minha visão, não consigo enxergar os presentes, mas sei que Ele está alí, logo na terceira fileira – cadeira B13.
Todos os dias Ele se senta na cadeira B13.
É Carlos quem está sentado me vendo interpretar o imenso monólogo de Natasha.
Ontem recdebi flores de um "gentil admirador". No cartão estava escrito:

À encantadora Natasha, que tem preenchido as minhas noites como a lua cheia, ofuscando toda e qualquer estrela ao seu redor .

Fiquei tão curiosa que acabei sendo indiscreta e me coloquei a procurar o camareiro receptor do lindo buquê de lírios.
Infelizmente não o encontrei. Porém na semana seguinte recebi outro ramalhete de lírios brancos, seguido das seguintes palavras:

Srta. Natasha, gostaria de lhe convidar para um aperitivo no Hotel Estúrias, estarei lá a partir das 23hs.


Eu imediatamente segurei no braço do camareiro e lhe pedi que identificasse o cavalheiro que, pela segunda vez, enviava flores à Natasha. O camareiro tremeu ao ouvir minhas súplicas mas se negou a identificá-lo.
Fiz a peça e logo depois, ainda tirando a maquiagem, resolvi sair para jantar – não costumo jantar, até hoje, mas naquele tempo, após sair do palco, sentia uma fome de elefanta e meu primeiro desejo era devorar um prato de macarrão ao sugo, com uma enorme taça de vinho rosé no Camarada`s – bar tradicional que ficava em frente ao Teatro Maior, local onde me apresentava com frequência. Ali, encontrava sempre os amigos e inimigos. Conversávamos sobre tudo, menos sobre a arte, pois como dizia um amigo meu:
- Quem fala de arte é banqueiro, nós artistas falamos de dinheiro.
O termo boemia naquela época soava como transgressão, e eu aos dezenove anos fazendo Natasha Nerontchkovicht no Teatro Maior, era a culminância dessa atidude transgressora.
Natasha foi escrita por Leon Svicht no final do século XIX e é uma personagem que fariam Madame Bovary ou Lolita parecerem duas crianças enfadonhas.
Não só pela descrição física – na qual eu cabia perfeitamente – mas principalmente pelas atitudes de gata traiçoeira, indomável e em cio constante. O que, segundo a crítica da época, fazia o texto soar como "pornografia revestida de dramaturgia de altíssimo nível". Para nós a crítica soava como um elogio, mas para os leigos, era como se todos estivessem interessados apenas na pornografia de alto nível. Lotávamos o Teatro Maior de terça à domingo. Todas as noites. Sabíamos que muitos vinham mais de uma vez por semana. Natasha era sucesso absoluto.

terça-feira, 24 de março de 2009

Tablado

Aos teus pés
me explode a vida
Aos teus pés
a vida se faz em cores
Me arranca o sorriso
Me vela o choro
Me derretes em pausas
tempo
Pausa
Fala
aos sopros internos
vou e venho
dia e noite
talvez só noite
enasaiada em dias
entusiamadamente
sua

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Agora

No apagar dos sonhos,
você.
No apagar das luzes,
os dois.
De noite emudeço,
de dia calo
No apagar de mim,
a noite.
No acordar,
um beijo:
teu.
De tarde sofro,
eu,
no entardecer,
você.

Sapatos

eu tropega nas tuas histórias
eu tropega na tuas ídas
saudade em mim
de ti
quem sabe você
de mim
em ti

Tempo

se tempo tenho
tempo sopra
tempo brinca de esconder
tempo faz juras
tempo amarra antes de vir
se vida segue
vida em mim
passa sem tempo vida
passa com volta vida
passa não, vida
sem mim,
passa não.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Despedida

eu que espero tanto
sou nada
eu que calada grito
sou muito
a vida incongruente que segue
no sonho
no findar da noite
quase madrugada
sinto
desdenho do fardo
assopro a volúpia
da sabedoria afoita
do tilintar dos beijos
do esgueirar dos olhares
despejo
desnuda
eu
ao cair do tempo.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Poeminha

menina vem cá...
menina bunita de longos cabelos
vem aqui e não me pergunte como
não me faça horas
não me tire as manhas
me deixe ser muito
me alivie a vontade
saiba estar no abraço a tardinha
saiba ver a lua e beijar
eu você essa coisa sem fôlego
eu você esse tudo sem fim
não para depois
não corra menina bunita de longos cabelos
eu menino seu,
só entendo assim
sou amigo do amor.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Súbito

Se perdeu em poucos minutos.
Deixou a lembrança afogar a noite,
ficou ácida.
De repente ficou desdenhosa da vida
e sentiu um abandono mentiroso -
esqueceu-se dos pormenores de antes.
Verteu poucas lágrimas
sobre o lençol branco
(bordado de borboletas azuis),
não soube calar o desconforto.
Foi isso:
não soube calar sua alma - imediatista.
Foi isso.
Ela preferia ser humilde e não à sua altura que era enorme: Lóri sentia que era um enorme ser humano. E que devia tomar cuidado. Ou não devia?