Duas e meia da manhã ela levantou para beber água, pensou no cachorro e ele logo apareceu, ficou olhando para ela com aqueles olhos de quem não sabe bem o que está acontecendo mas sabe muito bem que alguma coisa tem que acontecer antes que ela volte a ser triste, antes que ela se esqueça de alimentá-lo porque não consegue levantar da cama de tanto que a tristeza lhe pesa nos ombros, e ela vai chorar e ele vai ter que chorar também porque assim é, involuntário, como o amor, mas depois de virar o copo todo de água deixando escorrer um pouco por entre os cantos dos lábios, como ela sempre fez aliás, seus pés seguiram em direção à janela, estava um céu estrelado e ventava quente como esses dias de verão, eu estava um pouco zonzo, nós não costumamos acordar no meio da noite, ter insônia e esssas coisas, pelo menos durante a noite, tudo por aqui é muito tranquilo e ela sempre diz que se pudesse, escolheria o sonho, tudo bem vai, ela já me disse que costuma sonhar com gente , situações que já se foram - e que foram boas - que ainda não aconteceram, que talvez nunca aconteçam, não sei, acho que ela complica muito, as vezes eu não consigo acompanhar o raciocínio então eu dou uma latida e ela se sente compreendida, mas voltando àquela noite, janela, estrelas, telefone, sim o telefone tocou às duas e quarente e cinco da manhã, me lembro dela dizer as horas olhando para o relógio e se perguntando quem seria, ela atendeu, disse alô umas duas ou três vezes e em seguida desligou, achei que era engano e me deitei no chão da cozinha até ela decidir o que faríamos, o telefone tocou de novo, ela atendeu, falou alô uma única vez e soltou um sorriso, que me pareceu de intenso alívio, felilcidade, alegria, tudo isso junto.
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