segunda-feira, 14 de julho de 2008

para um doce...

Amo e te amo com todas as notas,
Com todas as dissonâncias do nosso dia-a-dia
Te amo sem jeito.
Te amo com o peito sufocado de tanto vida à dois
Te amo profundo, com brigas e desalinhos
Te amo amanhã porque acordo na saudade
Te amo ao pé do ouvido, em suspiros só teus
Te amo infinto, em pé, deitada, de frente
De fronte ao eterno,
Te amo de encontro aos meus filhos, teus.
Te amo agora, implícito, indiscutivelmente amor.

fatos inverídicos

... não sei se devo continuar...

fatos inverídicos - o dia

- Dez anos!
- A mulher mais linda da festa!
- Estou perdida...
Quarto de escritório, Emmanuelle está chorando e falando ao telefone, ele entra e pergunta o que está acontecendo. Ela começa a falar, sua voz vai sumindo, ele sai andando pela casa. Ela vai atrás dele.
Depois de alguns minutos, ele volta a escutar o que ela está falando:
- Me perdoa, eu te amo.
Ele fica parado, ela sai andando pela casa desesperada, diz que vai dar uma volta, ele diz que ela não está em condições de dirigir. Os dois se abraçam, ele começa a chorar.
- Você está sozinho?
- O que você acha?
- Não sei...
- Vem comigo!
Ele a puxa pela sala como se estivessem fugindo, vão adentrando o apartamento, ela começa a se sentir perdida, até que entram em uma das portas do imenso corredor, ele comeca abeijá-la, os dois vão tirando a roupa desesperadamente, derrubando tudo e se amam em cima da mesa do escritório. Ela olha nos olhos dele.

fatos inverídicos - a vertigem

Uma luz saindo por trás de uma coroa de flores iluminava a sala onde sua avó paterna estava sendo velada, sua mãe tinha ido buscar um café, era madrugada e todos foram descansar para retornar as dez horas. Horário do enterro. Na sala estava somente ela, seu pai e sua mãe, esta última mais por consideração à sogra que ao ex-marido. As duas eram como mãe e filha, um amor profundo. Emmanuelle se dirigiu ao corpo da avó emoldurado por cravos amarelos.
- Vó, tem uma escova para me emprestar?
A avó ficou surpresa e sem responder colocou a escova em suas mãos pequeninas que faziam jus aos seus cinco anos, sentou na beirada da cama e ficou observando a neta suspender os cabelos, alinhá-los simetricamente em direção ao alto da cabeça e envolvê-los com uma borracha tirada com destreza do punho direito, uma pequena conferida, nenhum fio fora do lugar e agora o toque final: uma fita azul turques amarrada em laço, caía por cima do rabo-de-cavalo.
- A senhora também vai tomar sorvete de massa com o vovô e eu?
Aquele dia foi o início de uma cumplicidade e admiração mutúa entre a avó e a menina. Embora morassem a mil quilômetros de distância uma da outra e só se vissem uma vez ao ano.
Sua avó gostava de ganhar perfumes. Cremes e os lençóis de sua casa cheiravam a confort fresquinho.

domingo, 13 de julho de 2008

fatos inverídicos - a festa

Valet park, nome na lista, som audível dez andares abaixo. Fitou o manobrista, virou o olhar para a esquerda e avistou dois casais, resolveu deixar o xale no banco traseiro do carro. No elevador se sentiu acuada, não pensou em desistir, mas a luz incandescente fez com que ficasse vidrada em duas rugas que até então não existiam. Retocou o batom fazendo um contorno um pouco maior do que seus lábios. A porta do elevador abriu dentro da festa - não pode nem tomar um fôlego - olhou o horizonte e viu o mar acima daquele aglomerado de cabeças. Nem um minuto e um garçom veio com um espumante: alívo. Um copo é sempre um companheiro, já que o cigarro foi banido de sua vida há alguns meses. O telefone toca, procura dentro da bolsa e não o encontra, sente um dezespero, vai até o sofá mais próximo, descarrega sua bolsa em cima dele, encontra o minúsculo aparelho e olha o visor: chamada identificada. Guardou seus pertences e decidiu encarar a noite que se punha diante dela, não tinha o que temer, era uma comemoração alheia, nunca vira aquelas pessoas e a dona da festa era uma amiga recente que conhecera em um congresso de pediatria. O que não reduzia aquele salão a uma simples festa de médicos, de acordo com o que estava vendo, parecia que sua bem comportada amiga, tinha uma vida paralela, uma segunda identidade. Aquelas pessoas pareciam fazer parte de um mundo mais, digamos, lúdico. Talvez artistas, não sabia precisar se eram atores, escritores, pintores, fotógrafos, músicos ou todos misturados . Olhou no relógio e ja fazia trinta minutos que estava sentada num sofá - o mesmo onde despejara sua bolsa. Eu preciso cumprimentar a pessoa que me convidou. Levantou e se viu num caminho sem volta. Por onde começar? E se eu me perder? Não vejo paredes. Sentiu pânico, daqueles que só se sente em lugares fechados, em espeial, prédios. O lugar poderia comecar a pegar fogo, poderia encontrar alguém que não quisesse cumprimentar, não estava mais acostumada com imprevistos. Resolveu não arredar pé. Concluiu que invariavelmente os anfitriões uma hora ou outra, acabam passando pela entrada da festa. Se sentou novamente. Olhou para os lados, olhou para o copo em sua mão - ele estava vazio. Nenhum garçom a vista, apenas um maço de cigarros na mesa lateral, a dois dedos do braço do sofá, onde uma de suas mãos estava apoiada. Começou a fitar aquele maço vermelho e branco, até que sua mão começou a suar. Um maço vazio? Pensou em conferir. Desistiu. Claro, ninguém deixaria uma preciosidade dessas jogada assim, ainda mais em lugares como este, onde, com o avançar das horas, e da quantidade de bebida ingerida, todos tendem a se tornar fumantes, enquanto somente dois por cento realmente o é. Como se todos se conectassem com seus ancestrais e passassem a compartilhar o fumo, a bebida e a fogueira.
- Você viu a Tereza? A dona da festa...
A pessoa apontou em direção ao centro da sala. Tereza estava no meio da pista com uma garrafa na mão direita, podia-se ler o rótulo rodopiando rente ao lustre art decor. Pensou em se aproximar dauela rodinha, que se exaltava ao som de um bate estaca. Um impulso frontal e uma mão agarrar-lhe os quadris e a faz girar, encontrando-se de repente unida a um corpo masculino. O corpo a afasta. Os dois se olham. Ela está paralizada, sente uma espécie de vertigem.

sábado, 12 de julho de 2008

fatos inverídicos - parte 1

Sexta-feira, nove horas da noite, luzes acesas no banheiro, música alta, maquilagens espalhadas pela pia, um vestido rosa lhe cobria o corpo, deixando as costas inteiramente de fora, salto onze nos pés, um par de pérolas e alguma esperança a faziam sorrir. Antes de apagar as luzes, deu uma última olhada pelo espelho, sentiu uma melancolia olhando para aquele decote que deixava suas costas inteiramente desnudas. No momento seguinte discordou. Por precaução, resolveu colocar um xale, nunca se sabe o nível de descontração de uma festa até adentrá-la, e, uma entrada triunfal pode vir a criar inimizades.

fatos inverídicos - preâmbulo

Seus pensamentos se comportavam como criança em festa de aniversário. Trânsito lento, carro sem som para distrair e nenhum compromisso urgente com que se preocupar. Aos poucos começou a sentir uma forte ansiedade seguida de suador, palpitações, estava à beira de um desmaio, seu telefone tocou. Olhou pelo retrovisor, nenhum guarda. Pronto? Do outro lado, um convite.

sem título

... estou voando pelas minhas encostas, sobrevoando as carcaças assombrosas do vir a ser, e posso, no momento desse exato segundo, ser outra, não sou: um depósito de sombras passageiras. Tudo ainda me dói, até a última lembrança.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Piscina a vapor

Estamos nós, eu minha calcinha e sutiã a beira da piscina. Sinto frio, talvez todos estejam sentindo frio. Talvez a lua tenha se enrolado em uma pachimina negra, por isso não a vemos. Estaria eu com sua camisa, não fosse a saída súbita e preventiva. Rondo a borda e não me desequilibro, sinto esse cheiro cítrico das folhas de um jardim verde, sem flores. Tento cantar uma musiquinha alegre, soprar o nevoeiro, tolinha, ele não se desfaz, é manhã e fará sol o dia todo segundo a previsão. Estaremos nós indispostas e doloridas, fará mais frio ainda, do que aquele da noite, sentiremos a chuva enuvens segundo o corpo, segundo o desprezível - zado, coração.
Ela preferia ser humilde e não à sua altura que era enorme: Lóri sentia que era um enorme ser humano. E que devia tomar cuidado. Ou não devia?