domingo, 13 de julho de 2008

fatos inverídicos - a festa

Valet park, nome na lista, som audível dez andares abaixo. Fitou o manobrista, virou o olhar para a esquerda e avistou dois casais, resolveu deixar o xale no banco traseiro do carro. No elevador se sentiu acuada, não pensou em desistir, mas a luz incandescente fez com que ficasse vidrada em duas rugas que até então não existiam. Retocou o batom fazendo um contorno um pouco maior do que seus lábios. A porta do elevador abriu dentro da festa - não pode nem tomar um fôlego - olhou o horizonte e viu o mar acima daquele aglomerado de cabeças. Nem um minuto e um garçom veio com um espumante: alívo. Um copo é sempre um companheiro, já que o cigarro foi banido de sua vida há alguns meses. O telefone toca, procura dentro da bolsa e não o encontra, sente um dezespero, vai até o sofá mais próximo, descarrega sua bolsa em cima dele, encontra o minúsculo aparelho e olha o visor: chamada identificada. Guardou seus pertences e decidiu encarar a noite que se punha diante dela, não tinha o que temer, era uma comemoração alheia, nunca vira aquelas pessoas e a dona da festa era uma amiga recente que conhecera em um congresso de pediatria. O que não reduzia aquele salão a uma simples festa de médicos, de acordo com o que estava vendo, parecia que sua bem comportada amiga, tinha uma vida paralela, uma segunda identidade. Aquelas pessoas pareciam fazer parte de um mundo mais, digamos, lúdico. Talvez artistas, não sabia precisar se eram atores, escritores, pintores, fotógrafos, músicos ou todos misturados . Olhou no relógio e ja fazia trinta minutos que estava sentada num sofá - o mesmo onde despejara sua bolsa. Eu preciso cumprimentar a pessoa que me convidou. Levantou e se viu num caminho sem volta. Por onde começar? E se eu me perder? Não vejo paredes. Sentiu pânico, daqueles que só se sente em lugares fechados, em espeial, prédios. O lugar poderia comecar a pegar fogo, poderia encontrar alguém que não quisesse cumprimentar, não estava mais acostumada com imprevistos. Resolveu não arredar pé. Concluiu que invariavelmente os anfitriões uma hora ou outra, acabam passando pela entrada da festa. Se sentou novamente. Olhou para os lados, olhou para o copo em sua mão - ele estava vazio. Nenhum garçom a vista, apenas um maço de cigarros na mesa lateral, a dois dedos do braço do sofá, onde uma de suas mãos estava apoiada. Começou a fitar aquele maço vermelho e branco, até que sua mão começou a suar. Um maço vazio? Pensou em conferir. Desistiu. Claro, ninguém deixaria uma preciosidade dessas jogada assim, ainda mais em lugares como este, onde, com o avançar das horas, e da quantidade de bebida ingerida, todos tendem a se tornar fumantes, enquanto somente dois por cento realmente o é. Como se todos se conectassem com seus ancestrais e passassem a compartilhar o fumo, a bebida e a fogueira.
- Você viu a Tereza? A dona da festa...
A pessoa apontou em direção ao centro da sala. Tereza estava no meio da pista com uma garrafa na mão direita, podia-se ler o rótulo rodopiando rente ao lustre art decor. Pensou em se aproximar dauela rodinha, que se exaltava ao som de um bate estaca. Um impulso frontal e uma mão agarrar-lhe os quadris e a faz girar, encontrando-se de repente unida a um corpo masculino. O corpo a afasta. Os dois se olham. Ela está paralizada, sente uma espécie de vertigem.

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Ela preferia ser humilde e não à sua altura que era enorme: Lóri sentia que era um enorme ser humano. E que devia tomar cuidado. Ou não devia?