segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Fuga

calado tempo
de versos passageiros
de encontros
quase trombadas
eufórico o beijo
fugidia a cama
lágrimas talvez
se demorasse
se dissesse hoje
se fossem claras
como naquela noite
menino
sim
como naquela noite.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Um suvenir para calar a noite,
duas doses para bater em retirada:
a sua cama;
a sua audácia disposta.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

você

vou dizer que impulsivamente somos o impossível da noite-dia do tempo-fato das coincidências escritas por alguém que eu nem conheço e você me vem inteiro deveras mutilado, deveras amando-beijando, de todos somente a sua totalidade me liberta e me inscreve na vida mútua, na safadeza diária em suspiros estrondosos e sangue em atitude que tem hora precisa para iniciar, nunca acaba desde aquele dia-noite sonhamos o fato-tempo de poder imprimir nossa construção imprecisa, remendável a cada fala, a cada ato ressonante das suas notas complexas - dançantes por onde passamos mesmo que ainda tenhamos muito que ir, mesmo que tenhamos muito que ser e não ter o hálito soprando vivo, ainda assim seremos essa história fantástica cantada aos poucos, infinitamente.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Madrugada

choro-música
coração de assombro
não poder
ser
superfície alta
beijo ao longe
dentes teus
abraços
visões
peito nú
lembranças minúsculas
não por falta
por ti
menino bonito

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ar de balão

Minha menina de giz
de caligrafia impossível
sua falta
sua destreza
seus laços de cabelo
nossas incongruências
fábulas perfeitas
da sua irrealidade
de lantejoulas furta cor.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

meditação

... um papel em branco... paixão inifinita. ela pode ser outra e sempre a mesma. pode sonhar oculto e desejar o alheio. ela pode ser perversa. pode ser dama. pode ser estridente. pode ser calma e alva. pode ser nuvem e tempestade imprevista. pode ser musica e solidão. dias de semanas, tempos de meses. pode ser vc e ser eu. pode ser nós. pode ser infinito e hoje. aqui. agora. ontem.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

(vamos embora menina!)
choro compulsivo
impulsividade
meu reverso
teu desgosto
parte de mim
parte sua
vida nossa
ora convenhamos!
eu sozinha
onde?
nunca!
dor.
para sempre dor.

STITCHING PART - 2

deixa eu ter um campo perto
deixa ser de concreto
rimar
ser rosa e azul bebê
teus pelos
tintas
cabelos
negros
não
branco
vida
volta
não vá sem mim.

STITCHING

eu te digo choro
eu te falo por menores
menos interessantes
somos você e eu
carcaças de ontem
desejo morto de hoje
saudade de nada
tristeza
impropriedade por vida
tarde de escapadas
eu te machuco
você me corta
temos um fruto
imbecis
amor?
perdemmos.
as time goes by...

Tristeza

pássaro em decomposição
urge vida
socorro não tem
sopro não há
canto de horror
abandono
pássaro não chora
antes voava
agora chão
penas estraçalhadas
asfalto
saudade do verão

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Tempo fica comigo?
Teu corpo dia-noite
me inquieta
me faz palavra tardia
me sinto inocência embrutecida
me faz desespero
me faz peso e pesar
tempo quero hoje
pode ser?
você está ou vai ?
tempo me beija na boca?
teu linguajar é a minha desculpa.
tempo me ama?
tempo
me espera?
tempo
de ser tua?
me queres?
tempo
Minha vida
tempo?

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

sec. XIII a.c.


arritmias incandescentes acometem o céu, baby.
indiscrições satíricas,
prosmiscuidade aleatória, dear.
insuficiência explosiva,
incongruências equalizadas, cherrie.
¡No me gusta las mujeres, pero que las hay, las hay!

Ufanismo


Se ele vai. Se ele se esvai. Com ele vou. Sem ele nada. Só nele sou. Por ele estou. Quando ele... Foi ele indo. Dentro dele, vindo. Comigo ele... Sou dele. Na mesma cama. Meu sonho com ele. Sono dele. Voz, nariz, eu, ele. Sozinha na cama. Dia clareando. Sem mim ele... Partiu sem mim. Deixou a pele. Orou no altar de pedras pretas alvamente decoradas. Castiçais, luzes, chamas que me protegem. De quê meu Deus? Tua cruz, eu. Sonata sã. Crisálida doce. Comida tua. Boca minha. Muito gosto teu. Eu. Gosto nosso. Temos? Esquecemos? Você talvez... desgaste temporário. Sabedoria gélida. Tua mente ininterrupta. Sussurro. Saudade de grilo que cantarola grunhindo. Gato que arrannha a janela aberta. Arregaçada, alagando tudo, destruindo, queimando a geladeira, o computador, o ventilador. O som que precisa realmente ser afogado. Ele se recusa a tocar. Vai pegar fogo. Grito: Fogo! Vai pegar... Deixou. Sumiu. Sofreguidão que é tão linda. Fale devagar: gravando! Diga. Repita: meu anjo. Repita anjo. Tomates. Adoro tomates. Você batatas. famintos. Ruas. Cemitério. Vamos a um velório onde se come e se bebe. Nos embriagar. Velar um morto de verdade. Morreu. Ele morreu? Angústia, conhece? Tomo um sorvete, você quer? Se você estivesse talvez não existesse esse sorvente com confetes. Serpentina. O carnaval já passou e já, já vem outro. Mais saudade. Saudade, mas...

"O clima hoje está parcialmente raivoso, levando à resignação e a ultimatos."
Chuck Palahniuk

"Você tem formas intermináveis de cometer suicídio sem morrer de morrer."
Chuck Palahniuk

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ele - o sonho


... está especialmente excitada. Ludibriada pela lua, se esconde por entre os lençóis - enlaça seus travesseiros. Está sã, porém doente de cama e versos e dedos e sexo. Está triste, já não sente suas nádegas, já não exala cheiros. Inapropriado seu discurso. O homem - você - deixou de ser, ou talvez não esteja em condições. Mas ela precisa muito, e o quer agora...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

(risadas ao longe)
...já é tarde, estamos famintos...

...uma ciranda por favor!
...beije-me os lábios como da primeira vez!

Flutuações...


Ela minusculamente se desfaz em dias. Se dissolve ao calor do sol. Sua brisa suave já não cheira a neve e ela pode ser indiscreta. Pode sofrer tomando uma bebida à beira da piscina. Nada de companhias, esperar faz mais sentido. Revistas, livros, música. Ela não quer saber de saudade, quer ele. Sabe que ele virá. Está bêbada. Dança ao som de boleros. Escuta o cachorro latindo e pode ser ele. Melhor se despir. Melhor dar um mergulho, engolir um pouco de água para lavar o hálito. Melhor prender a respiração para que ele venha buscá-la no fundo. Pensará que está morta?

ELE

... suas palavras estão enfaixadas. Uma atadura lhes cobre o âmago. Nada demais, apenas necessitam de repouso (ela tem aproveitado para fazer o mesmo...)

sábado, 20 de setembro de 2008

Sophie


Se ela vivesse em liberdade seria prisioneira, mas como vive enclausurada é livre. Não vive só, vive à dois, ou por dois, como queiram. Para ela é único e não venham discutir as posses, ele a possui, ponto. Vestimentas não lhe agradam, por isso vive nua - pode ser assim. As vozes que escuta são musicais, não se satisfaz com o simples dizer, inútil de melodias. Sua bebida é gim. Sua comida o sexo, quando muito frutas. Ele gosta de sua palidez. Não tenho mais nada a dizer sobre ela, apenas fotos. Ela se auto-retrata todas as manhãs, também a ele e sua robusta estrutura corporal. Imagino que vivam alheios, esquecidos, apenas lembrados para si mesmos. Me parece que atingiram uma extremidade lúdica.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Chico e Betinha

Betinha seus olhos são azuis como o por do mar... E mar se põe? Para você ele é todo chão Betinha. Não vês? O sol se deita nele e juntos os dois dormem, depois vira preto, azul escuro, sei lá... não vês? Mas tem a lua Chico... Ai essa nem me fale, que tem conchavo contigo e eu sei... Nunca mesmo! Tem e tenho provas! Ai Chico se ela por ti tem apreço, não sou eu a culpada de tuas conversas por toda a madrugada. Betinha ela se enche e eu fico doido, fico homem fora de si, sinto saudade de tudo, até daquelas coisas que só você vive dizendo. De amor Chico? Pode ser...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

... talvez eu queira apenas te encontrar...

Carminha

Se existe um nome para mulher, com certeza é Carminha. Carminha é mulher bem feita, com tantos dotes que chegamos a desconfiar se foi feita por Ele mesmo. Não tem amigas. Anda para cima a para baixo na companhia de seu cachorrinho - presente dado por Teobaldo no primeiro anivesário de casamento. Teobaldo é homem trabalhador, daqueles que saem as sete da manhã e só voltam quando o sol se põe. Carminha não trabalha. Não por vontade, mas por prescrições médicas. Tem sopro. Nos tempos de crise, seu coração acelera, a respiração fica incontrolável e seu corpo treme inteiro. Carminha não gosta de cozinhar, mas gosta de roupas. Principalmente as de baixo. Gosta também de cinema, de modo que seus dias são assim: escolher e comprar as roupas de baixo, afagar seu cachorro e ir ao cinema. Assiste à tantos filmes, que já pensou em escrever para o Jornal. Carminha conheceu Alfredo na última sessão - das cinco, pois Teobaldo janta as sete e faz questão da esposa à mesa - conversaram e trocaram impressões do filme em questão. Era um suspense e Carminha adora suspenses. Alfredo achou o filme sensacional e gostaria de vê-lo novamente. Carminha aceitou. Em princípio teve medo, mas depois resolveu aceitar o convite e combinar uma sessão dali a dois dias. Na noite que antecedeu ao encontro Teobaldo anunciou que tinha que viajar à trabalho e gostaria de saber se ela ficaria bem na sua ausência. Carminha não exitou e pediu que ele a levasse. Mas Teobaldo viajaria à negócios e isso a aborreceria. Aproveite para se divertir, inclusive tenho aqui dois ingressos para o Teatro depois de amanhã. Dentro de três dias já estarei de volta, disse o marido. Carminha suspirou fundo, pensou em pedir pelo amor de Deus que não a deixasse sozinha, mas desistiu assim que Teobaldo lhe deu um beijo na testa e desejou boa noite. Carminha apagou as luzes da casa e subiu, abriu a porta do quarto e Teobaldo já estava dormindo. Ficou no banheiro um tempo e resolveu tomar um banho. Ligou o chuveiro e sem querer, pensou em Alfredo. No dia seguinte lá estava ela as cinco em ponto com seu ingresso na mão. Nem um minuto se passou e chegou Teobaldo com duas pipocas e dois ingressos. Já tenho, meu disse ela. - - Então jogue fora, você é minha convidada.
Carminha suspirou, sentiu seu coraçãoo bater forte, tão forte que pensou em desistir.
- Vamos, já estamos atrasados.
E Carminha foi, foi como nunca tinha ido. Foi tanto, que ao acabar o filme já estava convidando Alfredo para o teatro no dia seguinte. Depois do teatro sentiu vontade de beiijar Alfredo. E beijou. Beijou tanto que esqueceu que era mulher casada e beijou em sua casa, escutando Elvis. Beijou a noite inteira. Teobaldo voltou no dia seguine. Carmelita fez questão de ir recebê-lo na roviária. Quando se encontraram, Carminha pulou nos braços de Teobaldo e quis lhe dar as boas vindas, contar da peça, do quanto sentiu a sua falta. Teobaldo lhe deu um beijo na testa e disse:
- Se acalme, todos estão nos vendo.
E se distanciou de Carminha.
- Tenho que ir para o escritório.
Carminha acatou a decisão e voltou sozinha no lotação.
Chegando em casa, olhou ao redor, afagou o cachorrinho e decidiu encontrar Alfredo na sessão das cinco.

Sopro


- Diga ah!
- Diga oh!
- Diga ah novamente...
Um beijo. Eu não pensei e dei-lhe um beijo ali, em frente ao porta-retrato com a foto da sua família. Não eu não sinto vergonha, sinto um tesão incontrolável que, agora revendo os fatos, ainda me inquieta. Seus olhos brilhavam me pedindo isso e aquilo, a mais de meia hora. Estava nua por baixo do avental verde-claro. Quando ele se aproximou eu ja não via nada, apenas aquela boca. Vocês fariam a mesma coisa. Acreditem, se pudessem e não houvessem consequências, fariam. Ele afastou todos os livros da mesa, jogou sua família no chão e me comeu, me comeu com a fome dos monges, com o desespero dos puritanos. Ele ainda me ligou mais algumas vezes. Não, eu nunca mais o encontrei depois daquele dia. Sim, eu fiz questão de pagar a consulta.

domingo, 14 de setembro de 2008

IMPROPERIOS

Tudo aconteceu como mandavam os motivos. Não foi rebuliço da carne. Foi real. Sem arrependimentos. Ninguém sabia, eles sim. O choque foi antes. Me desculpem mas essas coisas acontecem e ninguém pode prever. Eles sim. Sabiam que naquele dia tudo seria explicado: por toques. Não vou discorrer os motivos, intimidades são intimidades, e, foi lindo e foi extasiante. Seu corpo estivera adormecido. Não posso julgá-la. Apenas foi assim.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Tenho febre.

Dor

Toca uma nota. Por favor toca só uma nota para mim. Um dó. Maior ou menor tanto faz. Pode ser com as mãos pode ser com os pés pode ser na caixinha de fósforo. Eu amo um pandeiro e você me vem pisando pé-ante-pé.

Samantha

é falta de peito, de pedra, de terra de caminho. é desconforto sem ninho, sem parada, seu sorriso é só disfarce. é falta de dentes, de cordas bem alinhadas e amarradas, ela é liquida, como naquele livro. é falta de realidade, roupa para lavar, barriga no fogão e texto na mão. ela é só encantos, como a abóbora daquela história. é falta de horas planejadas. ela não tem métodos, inconcretos seus laços, desajeitados seus gestos. é falta de frio, é falta de céu. ela quer alcançar o que não sabe. Samantha é assim, milagrosa nas horas vagas, e adora andar de balão, embora nunca o tenha feito. putinha perfeita, se nascer de novo quer ser comcubina.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Diva

Carmelita que ser estrela. Desde pequena ja sabia e explicava ao pai:
-Quero ir pra Cidade Grande, aprender a rir, chorar e ficar brava na hora que eu quiser.
Quero fazer igual ao palhaço aqui do circo, só que diferente, mais contido.
O pai se abismava diante de tanta sabedoria, mas infelizmente não sabia o que responder. Carmelita fez 15 anos e resolveu comemorar, cortou uns panos velhos, pintou o delicado rosto com tinta guache e no meio da noite reuniu toda a família, inclusive pipoca a cachorrinha inteligente, que aliás era platéia costumeira de Carmelita, pois nada foi de improviso, estava tudo muito bem ensaiado. Pediu ao irmão mais velho que anunciasse, segurando um lençol branco bem esticado:
- Vinda da Cidade Grande, a majestosa estrela: Carmelita.
O pano caiu e a menina começou a recitar o que ela chamava de monólogo. Chorou, gargalhou, se jogou no chão, levantou e agradeceu a sua platéia como vira na TV. A família aplaudiu extasiada, nem todos sabiam dos dotes artísticos da menina. Ao final da comemoração seu pai lhe pediu que no dia seguinte fosse até a praça comprar a passagem para a Cidade Grande. Na manhã seguinte lá estava ela. O ônibus sairía naquela tarde, logo depois do almoço. Dona Filipa chegou a perguntar se aquilo era mesmo verdade, e também teve muito medo. Ouvira dizer que na Cidade Grande as coisas são muito difíceis. Mas Carmelita não estremeceu, juntou seus poucos vestidos, um casaquinho de lã recém feito pela mãe, o único sapato, tomou banho, fez trança e passou um perfume que ganhara no tiro-ao-alvo na últina festa junina da cidade. No almoço foi aquela choradeira, os irmãos perguntando porque não podiam ir também, a avó que não falava, nem lembrava de nada fazia anos, chegou a desejar boa sorte e dar a benção. Carmelita pediu que só o pai a acompanhasse até a praça, melhor, para não parcer coisa de gente do interior, que vai todo mundo se despedir e é aquela coisa. O pai terminou o almoço, penteou os cabelos para trás com seu pentinho de bolso e chamou a menina, estava na hora. Carmelita pegou suas coisas, a vasilha com bolo e frutas que sua mãe tinha preparado, deu a mão ao pai e foram a pé pela estradinha de terra que dava na cidade. Quando Carmelita avistou o ônibus sentiu vontade de desistir, mas seu pai segurou firme em sua mão e seu medo desaparceu. Subiu as escadas do ônibus , sentou na poltrona 15 - fizera questão do número, para dar sorte - encostou a cabeça no banco e foi feliz, com o endereço de Tia Joana, parenta distante de sua mãe que morava na Cidade Grande desde que se casou com seu Altamiro, um importante cabo do exército. Carmelita adormeceu logo no primeiro quilômetro. Sonhou com palcos, luzes, tapetes vermelhos e autógrafos, muitos autógrafos.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Despropósito

... e ele tem me dito repetidamente que está abandonado, mais das reticências do que pelos meus pontos de exclamação. Tento por um fim nessa ausência, os fatos felizes, os dias mais do que esnsolarados, o verão me deixou bronzeada e as sombras desapareceram, sinto falta delas, entendo o que ele diz, mas tenhamos calma meu querido, as coisas ja estão voltando aos seus e seremos felizes como antes.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

para um doce...

Amo e te amo com todas as notas,
Com todas as dissonâncias do nosso dia-a-dia
Te amo sem jeito.
Te amo com o peito sufocado de tanto vida à dois
Te amo profundo, com brigas e desalinhos
Te amo amanhã porque acordo na saudade
Te amo ao pé do ouvido, em suspiros só teus
Te amo infinto, em pé, deitada, de frente
De fronte ao eterno,
Te amo de encontro aos meus filhos, teus.
Te amo agora, implícito, indiscutivelmente amor.

fatos inverídicos

... não sei se devo continuar...

fatos inverídicos - o dia

- Dez anos!
- A mulher mais linda da festa!
- Estou perdida...
Quarto de escritório, Emmanuelle está chorando e falando ao telefone, ele entra e pergunta o que está acontecendo. Ela começa a falar, sua voz vai sumindo, ele sai andando pela casa. Ela vai atrás dele.
Depois de alguns minutos, ele volta a escutar o que ela está falando:
- Me perdoa, eu te amo.
Ele fica parado, ela sai andando pela casa desesperada, diz que vai dar uma volta, ele diz que ela não está em condições de dirigir. Os dois se abraçam, ele começa a chorar.
- Você está sozinho?
- O que você acha?
- Não sei...
- Vem comigo!
Ele a puxa pela sala como se estivessem fugindo, vão adentrando o apartamento, ela começa a se sentir perdida, até que entram em uma das portas do imenso corredor, ele comeca abeijá-la, os dois vão tirando a roupa desesperadamente, derrubando tudo e se amam em cima da mesa do escritório. Ela olha nos olhos dele.

fatos inverídicos - a vertigem

Uma luz saindo por trás de uma coroa de flores iluminava a sala onde sua avó paterna estava sendo velada, sua mãe tinha ido buscar um café, era madrugada e todos foram descansar para retornar as dez horas. Horário do enterro. Na sala estava somente ela, seu pai e sua mãe, esta última mais por consideração à sogra que ao ex-marido. As duas eram como mãe e filha, um amor profundo. Emmanuelle se dirigiu ao corpo da avó emoldurado por cravos amarelos.
- Vó, tem uma escova para me emprestar?
A avó ficou surpresa e sem responder colocou a escova em suas mãos pequeninas que faziam jus aos seus cinco anos, sentou na beirada da cama e ficou observando a neta suspender os cabelos, alinhá-los simetricamente em direção ao alto da cabeça e envolvê-los com uma borracha tirada com destreza do punho direito, uma pequena conferida, nenhum fio fora do lugar e agora o toque final: uma fita azul turques amarrada em laço, caía por cima do rabo-de-cavalo.
- A senhora também vai tomar sorvete de massa com o vovô e eu?
Aquele dia foi o início de uma cumplicidade e admiração mutúa entre a avó e a menina. Embora morassem a mil quilômetros de distância uma da outra e só se vissem uma vez ao ano.
Sua avó gostava de ganhar perfumes. Cremes e os lençóis de sua casa cheiravam a confort fresquinho.

domingo, 13 de julho de 2008

fatos inverídicos - a festa

Valet park, nome na lista, som audível dez andares abaixo. Fitou o manobrista, virou o olhar para a esquerda e avistou dois casais, resolveu deixar o xale no banco traseiro do carro. No elevador se sentiu acuada, não pensou em desistir, mas a luz incandescente fez com que ficasse vidrada em duas rugas que até então não existiam. Retocou o batom fazendo um contorno um pouco maior do que seus lábios. A porta do elevador abriu dentro da festa - não pode nem tomar um fôlego - olhou o horizonte e viu o mar acima daquele aglomerado de cabeças. Nem um minuto e um garçom veio com um espumante: alívo. Um copo é sempre um companheiro, já que o cigarro foi banido de sua vida há alguns meses. O telefone toca, procura dentro da bolsa e não o encontra, sente um dezespero, vai até o sofá mais próximo, descarrega sua bolsa em cima dele, encontra o minúsculo aparelho e olha o visor: chamada identificada. Guardou seus pertences e decidiu encarar a noite que se punha diante dela, não tinha o que temer, era uma comemoração alheia, nunca vira aquelas pessoas e a dona da festa era uma amiga recente que conhecera em um congresso de pediatria. O que não reduzia aquele salão a uma simples festa de médicos, de acordo com o que estava vendo, parecia que sua bem comportada amiga, tinha uma vida paralela, uma segunda identidade. Aquelas pessoas pareciam fazer parte de um mundo mais, digamos, lúdico. Talvez artistas, não sabia precisar se eram atores, escritores, pintores, fotógrafos, músicos ou todos misturados . Olhou no relógio e ja fazia trinta minutos que estava sentada num sofá - o mesmo onde despejara sua bolsa. Eu preciso cumprimentar a pessoa que me convidou. Levantou e se viu num caminho sem volta. Por onde começar? E se eu me perder? Não vejo paredes. Sentiu pânico, daqueles que só se sente em lugares fechados, em espeial, prédios. O lugar poderia comecar a pegar fogo, poderia encontrar alguém que não quisesse cumprimentar, não estava mais acostumada com imprevistos. Resolveu não arredar pé. Concluiu que invariavelmente os anfitriões uma hora ou outra, acabam passando pela entrada da festa. Se sentou novamente. Olhou para os lados, olhou para o copo em sua mão - ele estava vazio. Nenhum garçom a vista, apenas um maço de cigarros na mesa lateral, a dois dedos do braço do sofá, onde uma de suas mãos estava apoiada. Começou a fitar aquele maço vermelho e branco, até que sua mão começou a suar. Um maço vazio? Pensou em conferir. Desistiu. Claro, ninguém deixaria uma preciosidade dessas jogada assim, ainda mais em lugares como este, onde, com o avançar das horas, e da quantidade de bebida ingerida, todos tendem a se tornar fumantes, enquanto somente dois por cento realmente o é. Como se todos se conectassem com seus ancestrais e passassem a compartilhar o fumo, a bebida e a fogueira.
- Você viu a Tereza? A dona da festa...
A pessoa apontou em direção ao centro da sala. Tereza estava no meio da pista com uma garrafa na mão direita, podia-se ler o rótulo rodopiando rente ao lustre art decor. Pensou em se aproximar dauela rodinha, que se exaltava ao som de um bate estaca. Um impulso frontal e uma mão agarrar-lhe os quadris e a faz girar, encontrando-se de repente unida a um corpo masculino. O corpo a afasta. Os dois se olham. Ela está paralizada, sente uma espécie de vertigem.

sábado, 12 de julho de 2008

fatos inverídicos - parte 1

Sexta-feira, nove horas da noite, luzes acesas no banheiro, música alta, maquilagens espalhadas pela pia, um vestido rosa lhe cobria o corpo, deixando as costas inteiramente de fora, salto onze nos pés, um par de pérolas e alguma esperança a faziam sorrir. Antes de apagar as luzes, deu uma última olhada pelo espelho, sentiu uma melancolia olhando para aquele decote que deixava suas costas inteiramente desnudas. No momento seguinte discordou. Por precaução, resolveu colocar um xale, nunca se sabe o nível de descontração de uma festa até adentrá-la, e, uma entrada triunfal pode vir a criar inimizades.

fatos inverídicos - preâmbulo

Seus pensamentos se comportavam como criança em festa de aniversário. Trânsito lento, carro sem som para distrair e nenhum compromisso urgente com que se preocupar. Aos poucos começou a sentir uma forte ansiedade seguida de suador, palpitações, estava à beira de um desmaio, seu telefone tocou. Olhou pelo retrovisor, nenhum guarda. Pronto? Do outro lado, um convite.

sem título

... estou voando pelas minhas encostas, sobrevoando as carcaças assombrosas do vir a ser, e posso, no momento desse exato segundo, ser outra, não sou: um depósito de sombras passageiras. Tudo ainda me dói, até a última lembrança.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Piscina a vapor

Estamos nós, eu minha calcinha e sutiã a beira da piscina. Sinto frio, talvez todos estejam sentindo frio. Talvez a lua tenha se enrolado em uma pachimina negra, por isso não a vemos. Estaria eu com sua camisa, não fosse a saída súbita e preventiva. Rondo a borda e não me desequilibro, sinto esse cheiro cítrico das folhas de um jardim verde, sem flores. Tento cantar uma musiquinha alegre, soprar o nevoeiro, tolinha, ele não se desfaz, é manhã e fará sol o dia todo segundo a previsão. Estaremos nós indispostas e doloridas, fará mais frio ainda, do que aquele da noite, sentiremos a chuva enuvens segundo o corpo, segundo o desprezível - zado, coração.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Monika e o desejo...

Monika não queria filhos. Queria ele. Não necessitava flores, somente toques. Não queria noite, mas sol do meio dia. Janela escancarada, cores vivas, cheiro forte. Sentia beijos em público, sexo no banheiro da festa. Não queria ter mais parentes. Se despia em mãos, pernas e dentes. Não, Monika não queria rimas. Queria contradições. Monika amava. Monika pedia amor. Não dormia. Em meio a masturbações solitárias, não comia. Não bebia, com medo de que disparates pudessem lhe acometer. Ele não notava. Monika sempre sorria. Ele assoviava. No meio de uma madrugada qualquer eles se olharam. Monika vestia uma camisola transparente. Ele lhe deu boa noite. Monika passou a tomar comprimidos. Ele passou a jogar tênis três vezes por semana. Principalmente aos sábados.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

desvairada

Juliette saiu sem pedir licença, sem pedir desculpas, sem adeus. Saiu sorrateira, como uma barata que passa correndo por baixo da porta. Levando pouco ou nada. Não queria vestígios da vida anterior. Não precisava mais de perfumes, cremes, salto alto. Queria a terra firme, o vento límpido sem atritos tocando sua pele branca cheia de sardas. Seus passos foram longos, seus desejos tentavam impedir a felicidade plena que a aguardava na próxima estação. Os bilhetes ainda não existiam, será que conseguiria um assento naquele trem? As pernas começaram a pesar e ela ainda nem tinha chegado na porta que dava acesso à rua. Resolveu dar um adeus ao cachorro. Pensou melhor. Talvez não devesse sair assim. Quem sabe uma festa de despedida? Pensou melhor. Um pequeno jantar, só ela e ele. Ouviu um barulho. Se escondeu atrás da cortina. Sentiu o cheiro dele tomando conta da sala. Viu o corpo nú que tanto desejara durante todo o outono. Mas agora era inverno e ela precisa ir. Precisava sentir o frio sozinha. Precisa se aquecer da sua própria pele, dos seus próprios desejos. Juliette esperou ele subir as escadas e num só passo alcançou a porta da frente sem se despedir do cachorro. Sem bilhetes. Seus pés tocaram o asfalto ela sorriu. O vento desalinhou seu cachos ruivos. Sentiu vontade de morder os lábios e gozou, como nunca antes. Sentiu, cantou, correu rumo à estação. Talvez pedisse carona. Talvez não.

sábado, 10 de maio de 2008

Valsa em ré maior

Vamos recomeçar do princípio dessa dança, meu bem. Deixa a moça falar porque as lembranças precisam agora serem reveladas, não apenas cumprimentadas.
Ela não disse que foi grave, mas foi. Doeu no fim do inverno. Doeu na primavera. Doeu no alto verão. Houve muita dança de pés e de corpos. Nem tantas. Mas as poucas foram infinitas naquela época. Se encontraram e sorriram como bons amigos, mas eram além e ele sabia disso. Sim, ela desejou que ele fosse embora. Desejou existir escondida,
e me perdoe, ela amou. De desejo de carne, mas amou. Também se ama os atos e ele dançava muito bem e tinha um sorriso de constância impecável, coisa impensável para ela naqueles tempos. Mas vamos falar da despedida (porque ela precisa) daquele dia em que havia uma fila para comprar ingressos. Fazia um mês que ele não estava.
Semanas de outros corpos junto ao seu. Ela não sabia estar só. Questão de preenchimento. E eles se olharam, e ela chorou. Existe uma divida, entende?

"Espera por um tempo que não sabe se vem
Todo o tempo é espera...
Esperar faz o tempo caminhar a passos céleres
Tempo que espero te esperar.
Porque não me liga e interrompe este estado em que não sei estar?
Porque não aparece e me solicita a dançar?
Porque não me acorda de madrugada e me convida para te amar?
Mas só me da esperas.
Estou cansada.
Faz tempo.
Faz vazio dentro de mim estas noites em que não está.
Faz tempo de te esperar..."

... naquela fila ela tremeu. Aquele espetáculo ela não assistiu.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

... não costumo fazer isso mas:

"Queria dizer... mas só penso. Penso que deveria dizer, mas só sonho e nada digo."
personagem RUBENS, Crisálidas. Cia 3x4!

terça-feira, 29 de abril de 2008

Segunda-feira depois de tudo

Eram três morangos vermelhíssimos. Três latas de mangada e um pote de sorvete de cupuaçú. Tinha um filminho de amor dando sopa em cima da mesa. Lá foi Dindinha. Lá estava o gato deitado no braço da poltrona em sonhos sem fim. Legendas-colher na boca-legenda-colher na boca-legenda- colher na boca... Dindinha passou a tarde de segunda-feira desse modo. Chegou a tardinha e tudo o que tinha de bom ao seu alcance já tinha sido usufruído de maneira que nada mais lhe restara senão sair. Olhou pela janela. Chuva caía. Relâmpagos. Olhou para a vitrolinha amarela - herdada do irmão mais velho - e pensou nos discos mofados. Em sua casa tudo mofa e não tem desumidificador que dê jeito. Ai como ela queria ouvir a velha vitrolinha trabalhando num Billy Holiday... Bocejou. Olhou para o gato. Ele estava acordado, com as pupilas dilatadídissimas, com o corpo todo disposto. Sentiu pena, o gato não teria para onde ir, no máximo circular pela minúscula kitinete. Ai se tivesse coragem, talvez deixasse Matias dar umas voltas pela vizinhança. Mas coragem sempre foi a última das suas qualidades, então, nada de passeios. Espera, talvez deva colocar Matias numa coleira e ir para um bar, pedir dois chops e uma isca de peixe, com certeza deve haver uma jukebox em algum bar dessa cidade. Vem Matias, nós não temos uma coleira, mas entra aí na sua casinha de transporte que nós vamos dar um passeio...

EXPLOSION

Vamos existindo aos poucos até que tudo se acalme.

domingo, 20 de abril de 2008

Inverno

Estou sentada em frente a ela. Estou em cima da bancada de madeira, ela está deitada. Seus olhos estão fechados. Os cabelos estão sem brilho e a primeira coisa que me vem em mente são as claras de ovo que minha tia uasava para dar brilho nos nossos cabelos. O cheiro depois de umas duas horas ficava insuportável, chegava então a hora de lavar. Não, não posso fazer isso. Talvez eu deva chamar uma cabeleireira para me ajudar. Merda. Odeio esse gato, ele sempre me assusta com essa cara horrível de quem sabe tudo. Sabe de nada, se soubesse nem teria entrado aqui. Fora. Chega. Puta que pariu, eu não estou conseguindo chorar, essa porra de situação não me deixa nem sentir a falta dela. Acho que tem alguém subindo, é melhor eu ir tirando os sapatos e depois as meias. A última coisa que eu vou tirar será a calcinha e o sutiã, talvez eu nem precise troca-los, se eles forem bonitos e estiverem combinando eu os deixarei. Na escola ela me pediu um lápis emprestado e no recreio ela veio se sentar ao meu lado. Ficou o recreio inteiro sem dizer uma palavra, voltamos para a aula e ela me agradeceu a companhia. Mulheres na maioria das vezes, usam técnicas que conservem suas feições. Não quero me perguntar isso, não vou me punhetar com essa pergunta, tem coisa que não tem explicação, todo adulto sabe disso. Porque esse vestido vermelho? Para que salto? Onde ela pensou que estava indo? Droga, eu quero chorar, eu preciso me concentrar e chorar hoje, agora que ela está aqui na minha frente. Suas mãos estão lindas. Lisas. Esse cheiro que eu estou sentindo está vindo da folha de lavanda que minha avó tinha nos fundos da casa. Eu não vou conseguir, eu não quero, eu não sou obrigada a estar aqui, sozinha. Mãe! Por favor venha me buscar, eu estou com medo, quero ir embora! Sua vaca, eu não te amo. Eu quero que as coisas terminem sem que eu tenha que fazer qualquer último favor. Essa carta de merda que você deixou, esse seu quarto com tantas e tantas fotos de todos esses anos que não existem mais. Eu estou chorando. Eu consegui, eu consegui. Estou chorando. Eu estou chorando compulsivamente.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Perfídia

... só mais um instante e tudo será diferente...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Comemoração

... a vida vai indo aos montes. Tenho estado surpreendidamente feliz. Não dessas felicidades estonteantes e arrebatadoras, mas daquelas de que tudo vai bem e se segue sendo gente simples. Os dias andam menos da artista - talvez a mulher esteja no seu momento áureo não querendo dividir as honrarias.
Ontem teve festa, teve jantar e teve também o amor, livre num canto de banheiro, às escondidas.
Tudo muito maravilhoso, quase como em um conto de fadas - talvez seja o meu conto mais profundo e impronunciável.
Talvez o box do banheiro esteja se transformando numa linda banheira e a menina não precise mais tapar os cantos por onde escorria a água...
Espuma de sabão, bolhas de champange e flores, muitas flores em tules de renda e seda francesa.

sexta-feira, 7 de março de 2008

rape me my friend...

as vezes da até para ficar sem palavras... de vez enquando estou tão cheia delas que um engarrafamento de quilometros e quilometro se forma e o sinal está vermelho. Os dias que antecedem essa crise, ja vão me emudecendo, vou ficando surda também e sem sentidos aparentes para as reações necessárias ao dia-a-dia. Tudo muito tumultuado, impulsivo. Tiros no meu travesseiro. Correria em minha cama. A festa está praticamente acabando.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

vida...

Uma vez disseram à ela que a vida era passear, tirar um cochilo depois do almoço e se apaixonar desesperadamente sempre que possível... Ter um cachorro, uma casa onde os passarinhos possam visitar e muitas, muitas flores, principalmente jasmim. Disseram também que para poder ser assim, era preciso esquecer de tudo isso, porque essas coisas acontecem quando a gente mesnos espera. Catarina se sentou em frente à janela e esperou até o dia em que tudo acontecesse sem querer, por acaso. Dona Catarina tinha uma vizinha, muito correta e determinada. Um dia elas se sentaram para tomar um chá da tarde e a vizinha lhe contou que tinha acabado de chegar à cidade um senhor alto, magro, que trabalhava no exército e tocava violão. A vizinha sabia do segredo, ou melhor, do destino que dona Catarina esperava todos os dias pela manhã e ao cair da tarde. Não concordando com a paciência de dona Catarina, a vizinha sempre tentava fazer planos e executar objetivos junto à dona Catarina para "agilizar" as coisas, como ela mesma gostava de repitir aos quatro cantos. A vida não tem ensaio, enquanto você está aí nesta janela, o destino vai tecendo suas teias conforme lhe dão a linha, dizia a franzina vizinha que, além de uma mãe reumática, uma irmã realmente louca e um pai cantor - de igreja é claro, pois ali não havia essa história de casa de shows - ainda sofria de menopausa precoce. Enfim, era uma mulher muito ativa, porém com poucas atividades que... bem... que... a fizessem se sentir viva e bondosa, pois, apesar de toda a desgraça que a rondava, ela jamais se preocupou com os membros de sua família, e vivia como se com eles não morasse.
Bem, um belo dia, o tal rapaz de fora apareceu. E como ja disse: tocava violão. Isso quer dizer que, possivelmente faria uma serenata caso se apaixonasse. Ah, sim, esqueci de dizer, o homem pelo qual dona Catarina se apaixonaria pelo resto da vida, seria de fora e lhe faria uma serenata no segundo encontro - informação que fazia a vizinha tremer diante de um violeiro. Os dias foram passanndo e o tal homem de fora acabou conhecendo a vizinha e no intuito de fazer com que dona Catarina se aproximasse dele, acabou ela mesma recebendo a tal serenata. Dona Catarina passou a noite toda aos prantos, rogando pragas e mais pragas contra a franzina mulher. Mas o pior foi depois, quando a vizinha além de lhe mandar o convite de casamento, pediu que ela fosse madrinha, pois sem o destino de dona Catarina ela jamais teria se dado conta do seu.

FIM

... é no final da tarde que minhas mãos tocam em você e não te encontram. Sua casa entregue à mim. Seus dedos por todos os cantos perfurando meu corpo. Saudade do pouco que sufocamos, mais eu, pela deslealdade horrorosa, que nos machucou até o fim. Sua voz que não mais me penetra através dos seus olhos, uma cama vazia de nossos corpos juntos e felizes, o fogão enferrujado pela falta dos meus manejos. Já estou longe e quero ficar, mais por indecência do que por vontade. Somos tristes agora e ontem e até que nos esqueçamos. Tudo é angústia e medo nessa espera de reencontro com o que sou, que deixou no seu corpo uma parte de mim que nunca mais voltarei a ter. Saio catando as partes sufocadas nos meus cantos, para me convencer de que sou novamente minha. Tento tapar as narinas para fazer passar o cheiro da sua pele em todas as minhas roupas, e sei, que terei de usar e lavar todas elas, durante muito tempo, até que esse cheiro escoe ralo abaixo. A água que cai do chuveiro me deixa ainda mais suja - é água sua, da sua casa, do seu suor. Sempre lindaa e sempre louca, te esqueço com a fúria das minhas entranhas pedindo o teu sexo, tua boca. Numa explosão insensata te mato e faço morrer a tua mulher. Já não é ela quem está aqui, já não é você o homem que eu amei.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Feliz Aniversário

Duas e meia da manhã ela levantou para beber água, pensou no cachorro e ele logo apareceu, ficou olhando para ela com aqueles olhos de quem não sabe bem o que está acontecendo mas sabe muito bem que alguma coisa tem que acontecer antes que ela volte a ser triste, antes que ela se esqueça de alimentá-lo porque não consegue levantar da cama de tanto que a tristeza lhe pesa nos ombros, e ela vai chorar e ele vai ter que chorar também porque assim é, involuntário, como o amor, mas depois de virar o copo todo de água deixando escorrer um pouco por entre os cantos dos lábios, como ela sempre fez aliás, seus pés seguiram em direção à janela, estava um céu estrelado e ventava quente como esses dias de verão, eu estava um pouco zonzo, nós não costumamos acordar no meio da noite, ter insônia e esssas coisas, pelo menos durante a noite, tudo por aqui é muito tranquilo e ela sempre diz que se pudesse, escolheria o sonho, tudo bem vai, ela já me disse que costuma sonhar com gente , situações que já se foram - e que foram boas - que ainda não aconteceram, que talvez nunca aconteçam, não sei, acho que ela complica muito, as vezes eu não consigo acompanhar o raciocínio então eu dou uma latida e ela se sente compreendida, mas voltando àquela noite, janela, estrelas, telefone, sim o telefone tocou às duas e quarente e cinco da manhã, me lembro dela dizer as horas olhando para o relógio e se perguntando quem seria, ela atendeu, disse alô umas duas ou três vezes e em seguida desligou, achei que era engano e me deitei no chão da cozinha até ela decidir o que faríamos, o telefone tocou de novo, ela atendeu, falou alô uma única vez e soltou um sorriso, que me pareceu de intenso alívio, felilcidade, alegria, tudo isso junto.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

sexta-feira de carnaval em São Paulo

...bandeira branca, amor, beijo, suor, velho barrero, mocidade independente de padre miguel, cerveja, cristo, lagoa, copacabana, santa tereza, pastel, cerveja de garrafa, fantasia, homem, rua almirante alexandrino, sapucaí, purpurina, salto alto, bateria, mangueira, fogos, disperção, frisa, camarote, beijo na boca, picolé de uva, fantasia, fotos, amigos, lagoa rodrigo de freitas, braseiro, bloco, carmelitas, bola preta, ipanema, porre, dor de cabeça, lança-perfume, desfile, você pagou com traição, lapa...
Você era a favorita das cabrochas desta ala...
hoje o samba saiu... procurando você... quem te viu, quem te vê...

ps: me desculpem mas estou saudosa...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A moça do metrô

Estava saindo do trabalho e resolvi pegar um metrô até Botafogo, de lá eu pegaria um taxi. Estava chovendo e esse era o melhor jeito de não pegar o trânsito de Copacabana. Comprei meu bilhete, passei a roleta, desci as escadas e fiquei em frente ao ventilador. Estava tudo tranqüilo, só escutava o barulho do ventilador. Fecho os olhos. Fico um tempo assim. Ouço o barulho do trem se aproximando. Ouço um barulho de salto alto se aproximando. Levo um empurrão. Um pedido de desculpas. Abro os olhos e vejo uma blusa verde com um guarda-chuva roxo na mão. Antes que eu revidasse ou dissesse qualquer coisa, ela correu para dentro do vagão e se sentou. Entrei no mesmo vagão e me escondi de maneira que desse para vê-la. Era linda. Era realmente linda aquela mulher e seu salto, sua blusa verde, seu guarda chuva roxo e seu cabelo ruivo. Ela desceu em Botafogo. Eu também desci em Botafogo. Ela parou na escada que dava ascesso à rua e abriu o guarda-chuva. Eu estava sem, tive que correr, me abrigar na primeira marquise que avistasse e esperar que ela viesse em minha direção. Não, eu não tinha certeza, era apenas um desejo.
Ela veio. Passou por mim e seguiu. Atravessou a rua por entre os carros sem nem mesmo esperar o sinal fechar, subiu na calçada e entrou no cinema. Continuei atrás dela e, para que não suspeitasse, pedi um café no balcão do bar que ficava em frente à bilheteria. Senti frio na barriga, tremi e implorei que ela estivesse sozinha, mas não consegui ver quantos bilhetes ela comprou. Coninuei no bar enquanto ela se dirigia à sala três. Corri na bilheteria, pedi uma inteira para a sala três, sem nem saber a qual filme assistiria. Entrei na sala, estava tudo escuro, o filme já tinha começado e eu esquecera de ver o nome no bilhete. Nos momentos em que a sala ficava um pouco mais clara com as paisagens de gelo refletidas na tela, eu aproveitava para olhar ao redor, mas não a encontrei e acabei prestando atenção nos últimos trinta minutos de filme. Era um filme triste. Se passava na Transilvânia. As luzes se acenderam. Por algum momento tive a impressão de que ela estava ao meu lado, olhei para a minha esquerda e, quando fui olhar para a direita, a vi passando no corredor, tão apressada, que tive medo de perdê-la. Quando consegui sair da sala, ela já não estava mais no salão. Fiquei parado ali, no meio daquela gente toda me empurrando, enquanto o segurança me pedia licença, pois eu estava impedindo a passagem. Retomei o fôlego e resolvi ir embora, mas antes, vi um livro na vitrine e entrei para perguntar o preço. Comprei e mandei embrulhar para presente. Estava no caixa pagando e avistei um cabelo ruivo por cima da estante de livros. Antes mesmo de pagar o livro, saí correndo atrás daqueles cabelos. Ela seguiu rua abaixo. A chuva tinha diminuído. Antes de cruzar o terceiro farol resolvi pegar um táxi, pedi que ele seguisse aquela mulher e a esperasse no sinal seguinte. O táxi fez o que eu pedi, mas ela virou uma rua antes. O sinal abriu, os carros começaram a buzinar e o taxista avançou. Pedi então que seguisse em frente. A chuva recomeçou. Não consegui entender o que se passara durante aquelas duas últimas horas. Parei na padaria que fica na esquina da minha casa e pedi um conhaque - eu precisava dormir. Abri a porta de casa, olhei para o sofá e, tive uma vontade louca de vê-la sentada ali, me esperando.

19/02/2002.

O rosto, ao que me parece, é alvo.
Não diria belo,
descreveria como algo semelhante à ele.
São muitas as fotos que vejo.
Elas perfuram minha úmidade,
e repartem a ilusão passageira.
Tento ignorá-la mas,
ela está alí,
embaixo,
contando o fim dos meus míseros minutos.
Desço e ela ainda está lá,
intacta, presente.
Uma voz na secretária eletrônica.
É ela,
o motivo lícito de ele estar sempre ausente.

domingo, 27 de janeiro de 2008

MATO

... de tempos em tempos ela ficava vazia.

- Quer uma água com açúcar minha filha?
- Deixa ela chorar, chorar faz bem, lava a alma.
- Você vai ficar velha de tanto chorar, isso sim.
- Ih, tá precisando arrumar um namorado...
- Já, já eu vou dar um bom motivo para ela chorar !
- Sabia que na Espanha, eles chamam "Joaninha" de "Mariquinha"?
... é mesmo?
... hum, hum...

... chega, apaga a luz, já tá tarde!
... espera deixa só eu anotar...
boa noite.
boa noite.

lembra aquela vez...
xiiii...
só...
xiii...
Os olhos permaneceram abertos, não conseguiu mais dormir,
ela e um sapo, que coachou a noite toda.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Quando cai a chuva
por cima dos telhados,
ela atravessa o meu ser.
Então eu transbordo...

Safadesa

Peço à estrela que me leve
cadente nos teus braços.
Em rodopios,
deixo elas me alçarem pelos mares.
Vou aberta.
Preparando a lúxuria
(que desde a sua partida, internou-se num convento),
cabelos soltos,
mãos esticadas,
e meu corpo pousando
na pista ereta do teu sexo.

alto mar - posfácio

É dia de ver a lua em teus olhos,
já os perdi de vista,
mas lembro,
no meu corpo,
longe de mim não?
Fraquezas...

alto mar um ps.

... se acaso retornares e te aborreceres com a chuva,
passe diante dos meus olhos,
pois os dias têm me acompanhado...

alto mar

O inusitado de não ser o que sou,
de só existir para nós,
O silêncio de deixar o sangue escorrer sem gritar a dor do corte
e a meditação compulsiva,
é o que agora vivo,
é o que me ancora nesse cais,
impregnado por suas partidas...

no hay banda...

Sonhei de ser estado indizível
Uma calamidade honrosa.
Reciprocamente estranho.
Um grito.
Sua mãos através dos fios
Sua esperteza sã,
vagarosa,
contra meu eu,
à nosso favor.
Corda bamba em te ter.
Ao longe nossos olhos,
mãos que se dão,
um beijo.
Saudade, morte.
Saudade, vida.
Saudade, noite.
Saudade, gato.
Saudade, valsa.
Medo de lembrar.
Busco esquecer,
nos esquecer.
Dúvida, voz.
Preenchimento na exata hora,
o encontro.
Mãos que se uniram.
O sol que nasce.
O medo acabou.

Adúlteros

Somos simples
Não temos picos
Não há ressonância
É quase como o sinal da morte.
O que nos acontece
Deve terminar antes do fato
Somos sub-reptìcios
Inéditos,
a cada encontro.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Colombina

Ela anda muito sem palavras, sem brilho, sem lantejoulas para lhe cobrir o vestido. É tempo de ouvir um batuque e não há nada por perto, talvez um bloco no sábado, não sei... Por onde ela vive, as coisas são de outra ordem, parece até que o povo de lá não entende dessas coisas... Vai ter folia, mas ela vai ver da tv, vai chorar e se lembrar que é tão bom, tão bom, mas tão bom, que só de ouvir de longe já faz doer o coração. Ainda mais o dela, que pula mais que pipoca na panela e ainda rebola que é pra calar a boca de quem acha que branquela não tem gingado. Ai, ela tem suspirado muito por essa época, por esse tempo chuvoso, por essa banda que não vai passar...

tubo de ensaio

vamos ver no que dá,
se dá para fazer alguma coisa,
se da para pensar em algo mais...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

noite

...esse cara comeu muita gente. Comeu mesmo, comeu com tudo. Comeu gente que se você visse pelada, ía ter certeza de que o capeta existe e mandou algumas representantes pra testar sua paudurescência. Quer dizer, você nem consegue chegar perto desse tipo de gente, você é pequeno, o cara é grande. O cara enfileirou e foi o primeiro a pegar. Se você quiser falar em nomes, aí neguinho, pede pra pensar grande e entra na fila umas quatro vezes... Eu poderia ter sido ele, mas se sabe como são essas coisas de evolução, tudo tem sua hora.

quarta-feira

Rasura é um espaço pequeno que tem dentro de mim. Não tem profundidade e não quer ter. Não quer porque não quer, hora! Nunca peguei resfriado, meu peito é fechado, trancado, desconfiado de dia e desconfiado à noite - as vezes chega a ter medo do escuro - vive assim nesse ritmo de poucos amigos. Fundura é um outro espaço que tenho dentro de mim também, mas aí é conversa para outro dia, outra luz. Quem sabe no inverno...

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Maria Luisa

agora é a sua vez de contar... Tá, mas só vale aqui em volta... Nesse quadrado? Nele todo, não vale ir pra fora... Vou começar: um, dois... Você não tá fechando o olho direito, assim não vale... Tá eu vou fechar, vai logo... Mas se você não fechar eu não vou mais brincar... Eu também nem queria brincar disso... Eu que não queria... E porque você não falou? Esqueci... Olha, um Urubu! O que? Um Urubu! O que que é isso? Aquele passarinho grande ali ó... Ah! Nossa que passarinho grande! Ele come cachorro morto! Como você sabe? Meu avô me disse uma vez... Ele veio aqui outro dia. Vamos chegar mais perto dele? Vamos! Tem que dar a mão... é tem que dar a mão...

fim de tarde...

- Você não pode entrar aqui menina!
- Por quê?
- Você tem pouco cabelo, quase nada, ralo!

terça-feira

Dona Candinha esta agora com a mao na massa, nao sabe se faz bolo de fuba ou deixa o bolo branco mesmo. De fuba tem la suas vantagens e branco todo mundo gosta. Branco da pra rechear, sugere Alvira. Ah, mas de fuba da pra comer bem quentinho com manteiga e queijo branco, cafe fresquinho... hum... Vixe, num pode nao, bolo quente da dor de barriga! Gente, me deixa, por favor, parem de dar palpites, eu vou e fazer de chocolate, isso sim, vou fazer e nao vou colocar cobertura, to chata hoje, to revirada das ideias, vou resolver isso aqui e pegar meu croche! E por favor, se seu Altamiro das rendas passar por aqui, diz que eu fui pra Capadocia. Capadocia? Que lugar e esse mulher de Deus! Fica entre o Mar Negro e o Mar Mediterraneo, Turquia Alvira, Turquia! Sei... Vixe, a senhora ta avariada mesmo.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Segunda-feira

... ela acordou, foi até o computador, escutou uma musica linda e deu vontade de ficar em casa, ficar perdida, deixar as luzes apagadas e nem tomar banho. Deu vontade de fazer café e tomar muito café, café o dia inteiro. Simples: um cigarro e uma xícara de café. Sim, como naquele filme. Como em outros dias quando ainda nao tinha absolutamente nada com que se preocupar, quando ainda nao existiam contas, homens, profissao, amigos, felicidade. Ela era de uma época em que felicidade era algo intocável, indizível - apenas "sentível". Esses dias escuros tem ocorrido com frequencia, mas ainda nao posso aproveita-los. Por isso minto e finjo ser um homem, pai de familia, preocupado com a aposentadoria e com o futuro dos filhos. Sim, ainda estou fazendo analise. Talvez eu receba alta. Enquanto isso, vou até a cozinha do escritório e como mais uma rosquinha. Aproveito e coloco os fones no meu ouvido e ouço aquela música, a do computador. Tenho dois minutos.
Ela preferia ser humilde e não à sua altura que era enorme: Lóri sentia que era um enorme ser humano. E que devia tomar cuidado. Ou não devia?